sábado, 30 de maio de 2015

Summer Love



      Era noite, meus olhos estavam avermelhados e doloridos, as lágrimas não saíam mais, nem mesmo quando a tristeza era minha única aliada.
   Eu tentava com todas minhas forças não me soltar de seu corpo, meus dedos entrelaçados aos seus me faziam sentir segura e confortada, era um momento meu, um momento nosso.
    Estávamos no aeroporto, talvez em um lugar que poderia ser considerado naquele momento um lugar de tortura eterna, você iria, e eu, eu ficaria. Talvez seguiria outro rumo, ou continuaria em uma vida sem noção e descabida do normal.
     Eu estava angustiada, e a única palavra naquele momento era DOR, a qual eu nunca havia sentido antes, nunca havia provado algo semelhante, nunca tinha tido a amarga experiência.
   Você me levou a passos curtos ao portão de embarque, estava com a camisa quadriculada, a mesma de quando te conheci naquele show de rock, suas calças eram novas e seu all star estava sujo e desamarrado, eu pude registrar cada detalhe, seu olhar baixo e decadente, seus dedos gelados envolvendo os meus, e seu cabelo despenteado exatamente igual de quando acordamos juntos e enrolados nos lençóis. Chegamos ao portão, você recebeu uma ligação, sua mãe, na verdade sua família. Você foi monótono, falava coisas necessárias, eu não tinha  certeza do que exatamente se tratava o assunto, mas pensava que poderiam estar com saudades de você. Foi difícil pensar em que talvez poderia ser outra mulher, outra pessoa do outro lado da linha. As lágrimas inexistentes, voltaram com força, quando você reparou meus olhos marejados me embalou com seus braços fortes e frágeis ao mesmo tempo.
    Aposto que manchei sua camisa com minhas lágrimas, mas não fui capaz de constatar isso no momento. Você me afastou e me fitou com seus olhos castanhos, o encarei e senti você mergulhar nos meus olhos azuis, um misto de desejo e dor fluiu em meu ventre e tive vontade de gritar no meio de toda aquela multidão na ponte aérea.
     Você me olhou alguns minutos, e me senti nua frente a você, naquele momento apenas as lembranças me surgiam à cabeça. Como tudo aquilo poderia ter acontecido? Um amor de verão havia sido realmente o que eu jamais acreditaria, mas naquele verão de 97 você apareceu, e eu não sabia o que pensar diante de toda sua imponência, eu jamais pensaria que um dia me apaixonaria por um estudante de intercâmbio que estava em Washington de passagem, mas me apaixonei, e esse estudante era você Bryan Johnson. A menina que você encontrou aos prantos por que estava perdida no meio da plateia do show, que havia se separado das amigas para um simples lanche, e era burra o bastante para se distanciar a ponto de se ver perdida, você a encontrou.
    Eu estava fora de órbita, acho que aquelas garotas nunca foram minhas amigas, me deixaram na pior, drogas e álcool rolaram por lá e você nem mesmo ligou para o meu estado naquele momento. Desculpa, eu deveria estar parecendo uma drogada sem futuro, mas eu apenas quero deixar claro, não era eu mesma naquele momento.
   Você estava sozinho, passeando entre os cabelos punks e coloridos no meio da plateia fervorosa. Esbarrei em você aos vômitos, você deve ter ficado com dó de mim, por algum motivo você me ajudou. Destino? Talvez. Você me ajudou, me abrigou, me pagou um táxi. Você foi um real cavalheiro. No outro dia nos trombamos em uma padaria, lembra? Destino de novo? Eu não me lembrava de inicio, mas assim que você falou comigo, caí em mim sobre o dia anterior, o café sem açúcar na minha mão anunciava minha ressaca.
Conversamos, nos apaixonamos, você tinha mais 4 meses na cidade, e foram os melhores 4 meses de toda minha vida!
    O portão de embarque estava prestes a ser fechado, seu avião iria sair daqui 10 minutos, e eu ainda estava sendo observada por você. Enrolei meus dedos em volta de seu pescoço, você pousou suas mãos em meus quadris, nos encaramos, você sorriu um sorriso feliz com fundo melancólico, e me beijou. Me devorou por inteiro ali mesmo, no meio de um aeroporto.
    Foi incrível. Sua língua, seus lábios, você era mágico. Você se foi. Não sei mais a quem recorrer depois de 18 anos. Não sei se devo te ligar. Ainda te espero!

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